G1 - PolÃtica
Posto está vago desde fevereiro de 2024, após escalada de crise diplomática entre os dois países. Mensagem oficial do governo sobre o Holocausto é vista como trégua. Diplomatas israelenses em missão no Brasil passaram a alimentar a expectativa de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) volte a designar um embaixador para a representação brasileira em Tel Aviv.O posto está vago desde fevereiro de 2024, após a escalada da crise diplomática entre o governo brasileiro e o de Benjamin Netanyahu. O embate foi deflagrado depois de Lula comparar o que acontecia em Gaza ao Holocausto.Se concretizada, a nomeação de um embaixador representaria uma reaproximação entre os dois países. A possibilidade passou a ser cogitada após Lula emitir uma nota oficial por ocasião do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, na segunda-feira (27).O posicionamento, publicado na esteira do cessar-fogo na guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas, foi visto como uma espécie de "bandeira branca" e surpreendeu diplomatas israelenses que atuam no Brasil."Há exatos 80 anos, o campo de concentração de Auschwitz foi libertado. Auschwitz foi o palco de uma brutalidade indescritível, onde pereceram um milhão dos seis milhões de judeus que perderam suas vidas sob a barbárie do regime nazista de Hitler", diz a nota de Lula."Recordar seus horrores não é apenas um ato de memória, mas também um gesto de compromisso com a Humanidade diante dos perigos do extremismo que ressurge nos dias de hoje. Como presidente do Brasil, renovo meu compromisso com a luta contra o antissemitismo e contra todas as formas de discriminação", prossegue.Com cessar-fogo, Israel solta 90 prisioneiros palestinos depois de Hamas libertar 3 refénsIsrael vê 'gesto positivo'A nota foi recebida como um gesto positivo tanto pela Embaixada de Israel quanto pela comunidade judaica brasileira, afirma à Globonews o embaixador Daniel Zonshine."Acho que nós como diplomatas temos que procurar, como disse a secretária-geral do Itamaraty [Maria Laura da Rocha], as convergências e não as divergências", diz Zonshine.Na fala citada pelo embaixador, a diplomata brasileira comentava a relação Brasil-EUA após a posse de Donald Trump."Temos algumas coisas protocolares em que podemos avançar. Espero até que o Brasil pense em um embaixador em Israel para melhorar o que temos que fazer. Nosso papel é aproximar —aproximar e representar—, e quando não tem embaixador, fica um pouco mais difícil", afirma Zonshine.Atualmente, a embaixada brasileira em Israel é chefiada por um encarregado de negócios, o ministro-conselheiro Fábio Moreira Farias. ? Em termos diplomáticos, a ausência de um embaixador significa que não há uma interlocução no mais alto nível entre os dois países.A mensagem de Lula também foi citada por Zonshine durante evento em memória ao Holocausto sediado na Embaixada da Alemanha, em Brasília, na noite de terça-feira (28). Em discurso aos presentes, o israelense disse que a declaração foi "importante" e "muito positiva".Apesar do distanciamento entre os governos Lula e Netanyahu, os trabalhos da Embaixada de Israel no Brasil não foram interrompidos no último ano – e a representação mantém contato constante com o Ministério das Relações Exteriores. Na semana passada, por exemplo, Zonshine se reuniu com a Secretaria de África e Oriente Médio do Itamaraty.Desde que voltou à Presidência, em 2023, Lula nunca recebeu Zonshine para uma conversa. Já o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, foi recepcionado pelo petista em ao menos duas ocasiões após o início da guerra na Faixa de Gaza, de acordo com a agenda publicada pelo Palácio do Planalto.Zonshine diz esperar que uma eventual reaproximação entre Brasil e Israel viabilize um encontro entre os dois. "Espero que no futuro tenhamos a oportunidade. Eu vou terminar a minha missão aqui durante esse ano, então espero que [o encontro com Lula ocorra] antes disso", afirma o embaixador. Relembre, no vídeo e no podcast abaixo, a fala de Lula sobre a guerra na Faixa de Gaza que levou Israel a declarar o brasileiro "persona non grata":Lula é declarado 'persona non grata' em IsraelCríticas de ex-chanceler incomodaram brasileirosNo Itamaraty, a fala de Daniel Zonshine também é vista como um "sinal positivo" na tentativa de reaproximação entre os países.Diplomatas ouvidos pela GloboNews afirmam, de forma reservada, que o atrito nunca foi com a Embaixada de Israel no Brasil, mas sim com o ex-chanceler israelense Israel Katz – hoje, titular do Ministério da Defesa de Israel.Quando chefiava as relações exteriores, Katz usou as redes sociais para criticar o governo brasileiro. E, no ápice das hostilidades, chegou a levar o então embaixador brasileiro em Tel Aviv, Frederico Meyer, a uma "visita" ao Museu do Holocausto.O gesto, à época, foi visto pelo governo brasileiro como uma tentativa de humilhar e constranger o diplomata. E foi o estopim para que o Brasil retirasse Meyer do posto, sem enviar substituto.Segundo um diplomata ouvido pela GloboNews, a reaproximação deve se dar "passo a passo".O foco do Brasil, no momento, está em defender o cessar-fogo na Faixa de Gaza – intermediado por Estados Unidos, Catar e Egito – e as medidas de reconstrução do território devastado pelo confronto.