A radicalização da repressão promovida pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, a seus opositores políticos deve dificultar o papel de Brasil, Colômbia e México como mediadores do cenário pós-eleitoral no país.
Os presidentes dos três países devem fazer um telefonema conjunto para Maduro nesta quarta (7) ou quinta-feira (8) – e são vistos como possíveis articuladores de uma saída para a crise.
Nas últimas horas, no entanto, as notícias foram de mais violência política:
o governo Maduro teria detido María Oropeza, chefe da campanha de sua principal opositora, Maria Corina Machado;
Maduro ameaçou prender o principal candidato da oposição, González Urrutia, caso ele não compareça à sessão da Suprema Corte venezuelana.
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A avaliação de assessores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não é boa.
Segundo eles, a situação já não era fácil para a conversa entre Maduro e os três presidentes – mas piora conforme o autocrata venezuelano dá sinais claros de que irá radicalizar e jogar o país definitivamente numa ditadura.
Desde o início da crise entre governo e oposição na Venezuela, após Maduro se declarar vitorioso sem divulgar as atas eleitorais para comprovar sua reeleição, o governo brasileiro tem evitado adotar uma posição de confronto com o venezuelano.
Apesar disso, Lula e o Itamaraty não deixaram de cobrar, de forma enfática, a divulgação dos dados desagregados das atas eleitorais para que o resultado da eleição seja comprovado.
Outro assessor lembra que a prisão de María Oropeza, com arrombamento da porta e detenção no meio da noite transmitida ao vivo, não "acontece em uma democracia". Como também não é algo de um governo democrático "sumir com atas eleitorais".
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Ligação a caminho
Em sua volta da viagem ao Chile, o presidente Lula e seu chanceler Mauro Vieira devem finalizar as negociações para a ligação telefônica com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.
A estratégia é uma conversa conjunta de Lula, Gustavo Petros (Colômbia) e Lopez Obrador (México) com Maduro para reforçar o pedido para a divulgação das atas eleitorais.
Por sinal, na conversa, os três presidentes deveriam fazer apenas essa pergunta: por que o governo de Maduro, afinal ele controla o Conselho Nacional Eleitoral, não divulga as atas eleitorais se ele venceu as eleições presidenciais em seu país?
Maduro pode dizer que o CNE entregou as atas para a Suprema Corte fazer a auditoria, e que a divulgação só se dará depois desse processo.
O argumento, no entanto, deve ser visto apenas como uma estratégia protelatória do autocrata venezuelano para evitar divulgar os dados detalhados das atas eleitorais.
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