G1 - PolÃtica
Presidente do Senado assistiu ao debate com certa irritação por conta e não gostou que foi ignorado especialistas contrários ao projeto que equipara o aborto ao crime de homicídio. A encenação de uma atriz falando sob o ponto de vista de um feto durante debate no plenário do Senado sobre o projeto de lei que equipara o aborto ao crime de homicídio provocou certa irritação no presidente da casa, Rodrigo Pachego (PSD-MG).Além do uso de dramatização para discutir o tema nesta segunda-feira (17), Pacheco também não gostou que o debate, requerido pelo senador Eduardo Girão (Novo-CE), ignorou especialistas contrários a PL. Atriz interpreta ponto de vista do feto em discussão sobre o aborto no SenadoEle já tinha dito que o tema terá amplo debate caso seja enviado ao Senado. Para ele, o assunto deve ser discutido, levando em conta todas as correntes, critérios técnicos, científico, a própria legislação vigente e, sobretudo, as mulheres senadoras.Anunciado como um debate, o evento no plenário contou apenas com representantes de um lado da discussão: entidades e representantes da sociedade civil favoráveis a restrições para a assistolia fetal.Os discursos questionaram a autonomia de mulheres vítimas de violência em decidir pelo aborto legal acima de 22 semanas de gestação. Por diversas vezes, houve falas em apoio à proposta, em discussão na Câmara dos Deputados, que equipara o aborto ao crime de homicídio.Um dos senadores mais ativos na causa contra o aborto, Eduardo Girão inflamou os seus discursos com falas contra o Supremo e questionamentos sobre a legitimidade de procedimentos de interrupção de gravidez acima das 22 semanas.Após reação das ruas, oposição diz não ter compromisso com PL do aborto"A barriga, o ventre começa a crescer, a mulher começa a mudar. Precisa esperar, depois de um estupro, até as 22 semanas para fazer o procedimento para o qual não existe a pena – do aborto em caso de estupro? Não é aborto legal, esse é um termo que é utilizado e equivocadamente", declarou o parlamentar em uma de suas intervenções.Como foi o debateO evento ocorrido nesta segunda leva em conta dois contextos centrais:uma decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, que derrubou resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), que proibia a assistolia para interromper gravidezes com mais de 22 semanas;e a aprovação de um requerimento de urgência para levar diretamente ao plenário da Câmara a análise de um projeto que criminaliza a assistolia fetal acima de 22 semanas, inclusive em casos de estupro.Sem divergências de ideias nesta segunda, uma maioria masculina de convidados defendeu restrições a procedimentos de interrupção de gravidez.Ao defender a resolução do CFM derrubada por Moraes, o presidente da instituição, José Hiran da Silva Gallo, defendeu que não há autonomia para mulheres que decidem abortar em gestações com 22 semanas."Afinal, até que ponto a prática da assistolia fetal em gestação acima de 22 semanas traz benefício e não causa malefício? Esta é a pergunta. Só causa malefício. Nesse campo, o direito à autonomia da mulher esbarra, sem dúvida, no dever constitucional imposto a todos nós de proteger a vida de qualquer um, mesmo um ser humano formado com 22 semanas", declarou.LEIA MAIS:OAB vota parecer que considera PL do aborto 'inconstitucional' e 'grosseiro'PL do aborto: escolha de relatora deve ser única medida neste momento; PSOL quer retirada do textoMinistro diz não ver 'ambiente' para avanço de projeto que equipara aborto a homicídioEsta não foi a primeira vez que os plenários principais do Congresso receberam performances e discursos favoráveis a maiores restrições no aborto. Uma sessão conjunta da Câmara e do Senado, realizada em 28 de maio, foi palco de uma simulação de sete parlamentares de um procedimento legal de aborto. Na última semana, dois dias antes de a Câmara aprovar a urgência para a proposta que trata do tema, a Casa foi utilizada para homenagear o Movimento Pró-Vida. Nas duas ocasiões, os movimentos não receberam oposição ou qualquer tipo de protesto contrário.O alvo central dos debates em curso no Congresso é a chamada assistolia fetal, que consiste em uma injeção de produtos para induzir a parada do batimento do coração do feto antes de ser retirado do útero da mulher. O procedimento — utilizado para interromper gestações decorrentes, por exemplo, de estupros — é recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para casos de aborto legal acima de 22 semanas.A legislação brasileira não prevê, no entanto, um marco de tempo gestacional (semanas de gestação) para os casos de interrupção legal da gravidez.A resolução do CFM, derrubada por Moraes, buscava proibir a realização de procedimentos acima das 22 semanas. Em sua decisão, o ministro considerou que havia indícios de que a edição da resolução foi além dos limites da legislação.A saída encontrada pelos movimentos conservadores de parlamentares foi um projeto, apresentado por um dos líderes da bancada evangélica na Câmara, para criminalizar o aborto a partir das 23 semanas, inclusive para mulheres que foram violentadas sexualmente.Parlamentares e representantes do CFM que participaram do evento desta segunda chegaram a classificar a decisão do conjunto dos deputados de "ousadia". Presidente da Câmara, o deputado Arthur Lira (PP-AL) tem dito que a proposta deverá receber uma mulher como relatora. Depois de críticas públicas e manifestações contrárias a aprovação da urgência, Lira já sinalizou que espera "amadurecer o texto" antes de colocar o mérito (conteúdo) em votação.O 'outro lado'Organizador do evento, Eduardo Girão disse ter feito convites a pessoas favoráveis à manutenção dos textos atualmente vigentes sobre o aborto legal.Segundo ele, foram convidadas a ministra da Saúde, Nísia Trindade; e a presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, Maria Celeste Osório Wender.De acordo com apuração do g1, os convites foram encaminhados a poucos dias da realização do evento. Maria Celeste foi procurada somente no domingo (16). Já Nísia e o Ministério da Saúde, no último dia 11 — seis dias antes da realização da sessão.