Otoni de Paula participou de cerimônia no Palácio do Planalto. Governo tenta se aproximar de bancada evangélica, que está divida sobre relação com o presidente da República. Otoni de Paula (de terno e gravata) faz oração com Lula no Palácio do Planalto
Ricardo Stuckert/Presidência da República
O deputado Otoni de Paula (MDB-RJ) saiu nesta quinta-feira (17) do grupo de WhatsApp de parlamentares da oposição no Congresso, dias depois de participar de um evento no Palácio do Planalto para evangélicos e orar pelo presidente Lula.
A saída aconteceu porque outros deputados se sentiram "insultados" com o posicionamento de Otoni em favor de Lula.
Segundo integrantes do grupo, Otoni encaminhou aos colegas uma entrevista que deu ao jornal "O Globo" em que diz que a igreja não pertence nem ao bolsonarismo, nem ao petismo. O deputado teria pedido aos colegas para lessem o conteúdo e compreendessem seu posicionamento.
Um parlamentar rebateu dizendo que Lula "não sabe o que é Jesus". Outro afirmou que aquilo era um "insulto ao grupo".
Depois das falas dos colegas, Otoni decidiu sair do grupo da oposição no Congresso. À GloboNews, o deputado disse que tomou a atitude para "deixá-los à vontade".
"Até para falarem mal de mim também, por isso sai do grupo e sigo meu caminho", disse.
Um deputado que faz parte do grupo de oposição diz que Otoni "já dava sinais há muito tempo" de se aproximava do governo.
"O grupo da oposição é para quem é de oposição. Ele fez a opção de ser governo, é direito dele, mas não dá para ficar no grupo", disse sob reserva.
Otoni e outros parlamentares disseram que, há algumas semanas, o emedebista já tinha saído de outro grupo no WhatsApp da Oposição – este, focado na Câmara dos Deputados. Isso ocorreu por desgastes relacionados ao apoio que Otoni deu ao prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), na campanha pela reeleição.
Na terça-feira, Otoni participou da cerimônia de sanção da lei que estabelece 9 de junho com o "Dia da Música Gospel". O evento foi mais uma tentativa do governo de se aproximar dos evangélicos.
Na ocasião, o deputado chamou Lula de "meu presidente", elogiou a convivência com o presidente e disse que as igrejas não são de "direita ou de esquerda".
Bancada dividida
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Apesar da tentativa do governo Lula de se aproximar do grupo, a frente evangélica se divide dentro do Congresso.
A ala mais próxima ao ex-presidente Jair Bolsonaro diz que Otoni faz um movimento isolado em direção ao presidente Lula e que as posições dele não estão sendo bem recebidas na bancada.
Segundo esses parlamentares, o governo Lula só se aproximaria dos evangélicos se defendesse uma pauta ideológica e conservadora, por exemplo se declarando abertamente contra as drogas e o aborto.
Por outro lado, parlamentares evangélicos mais pragmáticos defendem a interlocução com o governo e admitem que a frente parlamentar evangélica perdeu força no governo Lula. Segundo eles, Otoni foi destacado para fazer essa aproximação.
Mas mesmo os mais pragmáticos defendem ações concretas do Planalto, e não apenas cerimônias, para se aproximarem do grupo.
Cientes de que Lula não deve se posicionar a favor de pautas conservadoras, esses integrantes avaliam que uma saída seria o governo se posicionar favorável às demandas dos evangélicos na reforma tributária – por exemplo, uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que amplia a imunidade tributária das igrejas.
A avaliação desses integrantes é que o governo Lula teria que abraçar uma bandeira como essa, conversar com as lideranças evangélicas e publicizar essa defesa.
Essa ala vê a tentativa de aproximação de Lula aos evangélicos como uma reação do governo após notar as dificuldades nas eleições municipais. Uma saída para melhorar os resultados do PT, portanto, seria essa aproximação.