Municípios terão os mesmos 2 candidatos que concorreram na última eleição. Para especialista, situação decorre do fato de o país ter muitos municípios pequenos, com poucos grupos políticos. Novo Lino (AL) vive repeteco na eleição de 2024 com os mesmos candidatos de 2020
Divulgação/TSE
A eleição para prefeito de Novo Lino (AL) vai ser quase idêntica à de 2020: os dois mesmos candidatos, Marcela Gomes e Dedé do Bacurau, vão disputar o comando da cidade alagoana de 10 mil pessoas.
Só que desta vez Marcela, que se elegeu pelo PL, concorre pelo MDB. E Dedé, que disputou pelo PL, vai de MDB.
O g1 tentou falar por WhatsApp e redes sociais com os dois candidatos, mas não conseguiu.
Novo Lino faz parte de um grupo com 94 municípios em que a eleição para prefeito de 2024 é uma reprise da de 2022 (veja no mapa abaixo).
De um lado, prefeitos tentam se reeleger contra adversários políticos que já venceram. Do outro, os derrotados quatro anos atrás querem a revanche.
As trocas de partidos, como a de Marcela e Dedé, são comuns. A maior parte dos candidatos derrotados em 2020 mudou de partido: 60 dos 94 estão de sigla diferente neste ano.
O mesmo ocorreu com os prefeitos eleitos, mas em proporção mais equilibrada: 49 decidiram trocar de partido, enquanto 45 se mantiveram na legenda em que estavam.
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Histórico local supera a ideologia
Para o cientista político Jairo Nicolau, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a situação dessas 94 cidades não surpreendente pelo fato de dois em cada 3 municípios do país ter até 20 mil habitantes, o que torna a articulação política da população menos diversa do que em grandes centros.
"Você tem dois ou três grupos políticos, às vezes é um. São duas, três figuras que comandam a política local e a ideologia, no sentido que a gente entende dos grandes centros, está muito distante da vida dessas pessoas", afirma o especialista. "A divisão política não passa por questões nacionais, ideológicas".
O histórico local tem maior peso do que ideologia política em eleições de municípios como estes, diz Nicolau, com a política tendo mais "a ver com tradição familiar, com disputas históricas" do que com esquerda ou direita, por exemplo.
Por isso, para o cientista político, casos como o de Novo Lino – em que os candidatos trocaram de partido entre si – são normais.
"Você vai encontrar em dezenas de cidades aliança entre PL com PT, PCdoB e e União Brasil [nas eleições municipais]. Não é a questão nacional que está organizando a disputa política", pontua Jairo Nicolau.
A cientista política da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Vera Chaia argumenta que a troca de partido é mais criticada quando ocorre com políticos em cidades maiores. Em municípios médios ou pequenos, o político e seu histórico contam mais para o eleitor.
"Se o candidato tem uma boa a aceitação na cidade, tudo bem. Ele não se dá bem com o partido, ele muda e isso se reflete nessa situação que você colocou dos candidatos que trocaram de partido [entre si] e estão disputando as eleições agora. É uma situação muito peculiar", afirma Chaia, ao citar o caso de Novo Lino (AL).