Com a aproximação do Summit de IA, evento promovido pela Fiesp e pelo Ciesp, que acontecerá nos dias 27 e 28 de agosto, Sylvio Gomide, Presidente do MPI da FIESP e Presidente da Comissão Especial de IA Fiesp/Ciesp, é o convidado da edição para falar sobre o tema.
Inteligência Artificial traz muitas possibilidades para debates e claro, muitas perguntas. Por isso, o Summit de Inteligência Artificial promovido pela Fiesp e pelo Ciesp será uma experiência única. Com a aproximação do evento que acontecerá nos dias 27 e 28 de agosto, Sylvio Gomide, presidente do Conselho Superior da Micro, Pequena e Média Indústria (MPI) da Fiesp e presidente da Comissão Especial de Inteligência Artificial Fiesp/Ciesp, conversa com o Ciesp News sobre esse universo repleto de oportunidades.
A conversa com Sylvio Gomide começou em torno de seus óculos de sol. Imagine um acessório que pode conectar com seu smartphone e entre as funções disponíveis, tem a capacidade de substituir um fone de ouvido. Você pode estar em qualquer lugar, como na praia e ainda assim ter a facilidade de usar um dispositivo com IA para fazer reuniões e otimizar seu tempo.
E não é algo do futuro, mas do agora. A collab da Ray-Ban com a Meta resultou nos óculos que Sylvio usou pela primeira vez em nossa chamada pelo Teams da Microsoft e poderia, por exemplo, fazer parte da rotina de qualquer empresa. Confira a entrevista:
Aposte na IA
CN: Já que você está experimentando esses óculos que são uma novidade, qual a sua percepção? Não foi lançado no Brasil ainda, mas é um dispositivo que as pessoas até veriam como simples.
Sylvio Gomide: Às vezes a gente comete o erro de dizer "isso aqui não vai pegar". Mas qual que é o ponto? Eu aprendi quando fui, no começo do ano, no South by Southwest (SXSW), aquele evento que acontece em Austin (EUA) uma vez por ano. O que falam muito lá? A gente não tem que se atentar à versão um do equipamento. A gente tem que imaginar como que vai ser a versão 3, 4. Isso aqui vai ser incrível. Você viu o primeiro Iphone quando Steve Jobs lançou. Era um negócio pequeno, superinovador para a época, mas a bateria acabava rápido, se batia no chão, ele quebrava. Olha aonde a gente chegou.
IA como estratégia para as empresas
Ciesp News: A inteligência artificial integrada aos negócios pode e deve ser encarada como uma estratégia para as empresas?
Sylvio Gomide: Sem dúvida nenhuma. É o que a gente tem escutado desde o começo. E cada vez mais surpreende com boas notícias. Por quê? Porque no começo, a gente achava que era coisa de empresa gigantesca, muito distante. E nada disso, você tem inúmeras soluções para pequenas, médias e óbvio, grandes empresas e muito acessíveis. Às vezes, boa parte delas com custo zero. E qual é o ponto importante? Você consegue aplicar isso na estratégia da empresa. Eu usei para a minha empresa o Copilot da Microsoft, pedi para ele fazer uma campanha de marketing para um semestre. Ele fez isso e melhor ainda, com o viés do Washington Olivetto, que é uma linha de marketing. E ele criou pegando esse banco de dados. A gente já está usando isso nas empresas, inclusive. Então é por isso que nós fizemos a trilha de oficinas. Nós já levamos o Google, a Meta, a Amazon e a Microsoft. A próxima vai ser a Globo, que estará conosco levando as ferramentas deles de IA. Isso mostra como colocar IA dentro das estratégias das empresas.
IA é o presente, é o agora
CN: Quando se fala em Inteligência Artificial, é muito comum a referência a algo do futuro, mas é fato que as empresas precisam dela para melhorar a competividade hoje?
Sylvio Gomide: Sem dúvida, e um grande termômetro disso que nós temos, é que o prêmio que nós lançamos de inteligência artificial, tanto categoria "indústrias que já aplicam" quanto categoria "startups que usam IA para indústria", a gente já está com dezenas de inscritos. Então já tem muita empresa, seja startup, seja indústria, aplicando isso no dia a dia. Você já tem ferramentas de Inteligência Artificial, que gravam reuniões, fazem resumos. Uma indústria como a Ray-Ban saiu na frente e se associou a uma big tech, Meta, e fez óculos e já lançaram uma versão nova. E tem rumores que a Meta está entrando de sócia junto com a Ray-Ban na indústria italiana. É uma indústria que não ficou [parada] no tempo. Ela poderia ser uma indústria de óculos que perdeu mercado para a China, que perdeu mercado para outros países. Mas, não, ela continuou com o design dela, continuou inovando e fazendo relacionamento e se filiando a uma empresa grande de tecnologia para juntas surfarem essa onda de Inteligência Artificial.
IA é para as PMEs, é para todos
CN: Além da preocupação de que são necessários altos investimentos, a questão da IA x humanidade é uma constante entre os receios de quem resiste a essa tecnologia. Quais caminhos podem ser trilhados para mudar esse pensamento, inclusive, para as PMEs?
Sylvio Gomide: Eu vou dar um exemplo meu. Eu não sou um cara tecnológico, nunca fui. Aliás, muito do que eu sei, aprendi com meu irmão, que é muito mais tecnológico do que eu. Mas o que eu faço? Eu me forço a aprender. Eu estava precisando comprar óculos de grau. Tive uma viagem e eu vi, esses [óculos] e o outro. A diferença era de US$ 30 dólares de um para o outro. Não era uma coisa de outro mundo. Ainda não tem no Brasil, mas eu me forcei para quê? Para ter uma experiência como estou tendo agora. Essa é uma sugestão que eu dou para as pessoas. Elas têm que escutar podcast, têm que se organizar. É uma forma de você aprender mais. Eu comecei assim. E até o próprio Spotify, usando inteligência artificial, já mostra que tipo de conteúdo eu gostei e curti, e me dá ferramentas e conteúdos parecidos. Tem muita coisa gratuita. O TikTok por exemplo, se tornou uma grande ferramenta de busca. Você digita "como utilizar inteligência artificial no meu negócio, numa padaria", por exemplo. Então, sim, isso tem que estar no dia a dia das empresas, pequenas e médias e é só o empreendedor, o executivo se forçar a aprender. Ele vai investir mais tempo, um tempo precioso que ele tem hoje em dia. Mas vai ganhar lá na frente, sem dúvida nenhuma.
IA para encurtar a distância entre PMEs e grandes empresas
CN: E quando se pensa em produtividade e lucro, por exemplo, a IA é uma maneira de encurtar as diferenças entre as grandes e as micro, pequenas e médias empresas?
Sylvio Gomide: A primeira vez que escutei sobre inteligência artificial, pensei que fosse coisa de empresa grande. Até o dia do congresso do ano passado, que nós chamamos o Alexandre Nascimento. Ele é de Stanford, do MIT e da Singularity University. Ele começou falando exatamente isso, a inteligência artificial é uma ferramenta poderosíssima, principalmente para as pequenas e médias empresas. Por quê? A hora que você pega os dados que a inteligência artificial gera para você, sócio de uma empresa de pequeno e médio porte, pode aplicar na hora para melhorar o ganho ou diminuir o desperdício da sua empresa. Um banco Itaú não. Ele tem que levar para um comitê, tem que levar a um compliance, tem que analisar e depois implanta. É óbvio que ele tem muito mais dinheiro que qualquer um de nós para investir nisso. Mas ele não tem a mesma agilidade. Então, [por isso] que eu falo, escute podcast, incentive seu time a pesquisar sobre isso. Assim que um colaborador meu trouxer isso para mim, eu vou implantar na mesma hora se eu gostar e ver ganho nisso. Então sim, é uma ferramenta poderosa e pode encurtar o tamanho das pequenas e médias para as grandes. Agora, as pequenas e médias que ficam de fora disso, vai virar um abismo muito maior, não tenha a menor dúvida. O contrário é verdadeiro.
IA para potencializar a eficiência e a competitividade da indústria
O "AI Index Report de 2024", o relatório de dados sobre IA de Stanford, traz, por exemplo, que a Indústria pesquisa mais o tema do que institutos acadêmicos. No ano passado, por exemplo, o setor desenvolveu 51 modelos automáticos de aprendizagem, o que superou os 15 da academia. E 21 modelos foram criados em colaboração com institutos.
CN: Como a Indústria pode enxergar esses e outros dados e informações sobre IA para potencializar a eficiência e a competitividade?
Sylvio Gomide: O investimento em pesquisa é importantíssimo, e nós temos que trazer para o Brasil uma cultura que ainda não tem. É muito comum um professor de Stanford fazer parte do conselho de uma indústria, é muito comum a indústria estar dentro da universidade. Isso no Brasil ainda é uma realidade distante. Tem casos na Usp, na Unicamp? Têm, mas é muito pouco, nós temos que fazer isso muito mais. Trazer a academia para a realidade das indústrias, das empresas, e mostrar para as empresas o quão poderoso é uma fonte de informação vinda da academia. Então, sem dúvida nenhuma, a hora que escutamos que há pesquisas em conjunto, isso é música para os ouvidos. Essa é a meta que a gente tem que ter aqui no Brasil e infelizmente nós estamos distantes disso ainda. Áreas como, empresas juniores, áreas de pesquisa, colocar alunos para pesquisar, professores, coordenadores, isso é muito importante, eles têm que estar próximos. Por isso que a gente tem o nosso convênio das entidades, da Fiesp e do Ciesp, com as principais universidades brasileiras. De trazer academia para dentro da Fiesp, do Ciesp e mostrar para o empresário que pode contratar uma solução que foi criada por alunos do segundo ano de administração, que tiveram uma coordenação de um coordenador experiente, para levar para o negócio dele. Isso muitas vezes é mais barato do que contratar uma consultoria de médio e grande porte. Eu vejo isso com bons olhos, me surpreendeu também, é claro que a realidade americana tem muito mais investimento. Os empreendedores já começaram a perceber, há mais tempo nos Estados Unidos, que eles têm que fazer isso para melhorar o resultado da empresa. Por isso, que a corrida das empresas para investir nisso está muito grande. E esses números mostram isso.
Primeiro Plano Brasileiro de IA: o que esperar
Em tempo, o governo federal recebeu na terça (30/07) a primeira proposta do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), elaborado pelo Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT). O plano prevê a compra de cinco supercomputadores e investimento de até R$ 23 bilhões de 2024 a 2028. Um dos cinco eixos que serão trabalhados se refere à IA para Inovação Empresarial, que visa estruturar uma robusta cadeia de valor em IA no país, em apoio às missões da Nova Indústria Brasil (NIB).
CN: Quais os benefícios esperados para a Indústria?
Sylvio Gomide: Vou tentar ser otimista na resposta. Primeiro que nós estamos atrasados, mas saiu alguma coisa. O que tem que ser? Tem que ser prático. O que eu mais escuto nos nossos eventos com empreendedores, colegas, "isso existe, é bacana, mas eu não tenho acesso", "isso existe, eu apliquei e até hoje não tive retorno". Esse é o problema nosso, se esse plano for ousado, os números são maravilhosos. A realidade brasileira é outra. Nos Estados Unidos, [a empresa] aguenta com um juro baixo, com benefícios, para ter fôlego e decolar o projeto dele. Aqui, a nossa realidade é outra. O Brasil não pode mais ser esse país que cria o Eduardo Saverin, que é sócio do Zuckerberg no Facebook, brasileiro, mas que saiu daqui superjovem e foi montar o sonho dele nos Estados Unidos. E hoje mora em Singapura. A Embraer está fazendo o Eve, o "carro voador", ele decola e pousa, usa inteligência artificial, é uma empresa brasileira, está construindo aqui na cidade de São Paulo. Infelizmente, quem serão os maiores clientes dela? Só empresas americanas. É importante mesmo ter clientes grandes internacionais, mas se nós tivermos aqui mais empresas, mais benefícios, o custo Brasil menor, uma carga tributária menor, um juro menor, com certeza, o nosso ambiente iria nessa linha. Quando voltei do evento de março, eu conversei com Anderson, ex-reitor do ITA. Falei: "Acabei de ver uma empresa de drone americana, que lá nos Estados Unidos entregou mais de um milhão de mercadorias por drones. Um milhão de mercadorias." Sabe o que ele me respondeu? "Temos uma empresa fantástica em São José dos Campos e outra em São Carlos." Nós temos aqui os talentos. Tem muito empreendedor craque aqui no Brasil que é desperdiçado pela burocracia. Esse plano, espero que seja uma coisa muito mais rápida e disruptiva para poder acelerar projetos como esse, nacionais.
Summit de IA
Evento promovido pela Fiesp e pelo Ciesp para debater perspectivas e tendências da I.A, compartilhar experiências e cases, conhecer as soluções disponíveis e mostrar a diversidade de suas aplicações nos negócios. Dia 27 de agosto no Teatro do Sesi e dia 28 de agosto no 15º andar. Das 8h às 18h. Endereço: Av. Paulista, 1313.