Encontro também deverá discutir a recente tentativa de golpe no país andino. Lula vai ao Mercosul, sem a presença de Milei, tentando reforçar a integração do continente e a contenção da extrema direita. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participará nesta segunda-feira (8) de reunião de cúpula do Mercosul, em Assunção, capital do Paraguai. Um dos principais pontos do encontro deverá ser a formalização da entrada da Bolívia no bloco.
Além de Lula, também deverão estar presentes os presidente Luis Lacalle Pou (Uruguai), Mario Abdo (Paraguai) e Luis Arce (Bolívia).
A principal ausência é do presidente da Argentina, Javier Milei, que avisou que não vai ao encontro, apesar de a Argentina ser um dos membros do Mercosul.
Milei é rival político de Lula e, durante a campanha eleitoral, fez críticas ao Mercosul. Ele e Lula nunca se reuniram, a despeito das tradicionais relações entre Brasil e Argentina. Milei não vai à cúpula em Assunção, mas participou de um evento conservador em Camboriú no fim de semana.
Lula, por sua vez, defende a integração entre os países do continente e o fortalecimento do Mercosul, além da contenção da extrema direita. Esse será um dos temas que o presidente levará para o encontro. Um trunfo de Lula será a vitória da esquerda nas eleições legislativas na França — após a extrema direita ter liderado no primeiro turno —, e a vitória dos trabalhistas na eleição da Inglaterra.
Golpe na Bolívia
Essa reunião vai marcar a entrada oficial da Bolívia no bloco. Além disso, o país será tema também por outro motivo: a tentativa de golpe militar em La Paz.
No dia 26 de junho, o ex-comandante do exército da Bolívia, general Juan José Zúñiga mobilizou tropas e tanques na rua da capital, La Paz, e chegou a invadir o palácio presidencial.
O governo de Luis Arce apontou "mobilização militar irregular". Zúñiga foi preso por tentativa de golpe.
O episódio gerou forte repercussão no continente. O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, Luis Almagro, afirmou que entidade não tolerará "qualquer quebra da ordem constitucional legítima na Bolívia ou em qualquer outro lugar".
Lula disse que deseja que a "democracia prevaleça na América Latina, golpe nunca deu certo."
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, fez um discurso em Assunção neste domingo (7), já como parte da cúpula do Mercosul.
"Não posso começar esse meu pronunciamento sem me referir, logo de início, à tentativa de golpe de estado ocorrida, há pouco mais de 10 dias, na república da Bolívia. Quero aqui me solidarizar com minha contraparte e amiga Celinda Sosa [ministra da Bolívia]. No Brasil também tivemos de enfrentar, ainda nos primeiros dias deste terceiro mandato do presidente Lula, uma tentativa de reverter, por meio da violência, a vontade soberana do povo, expressa nas urnas. No Brasil, assim como na Bolívia, a democracia venceu – e tenho certeza de que sairá mais forte", disse Vieira.
Acordo com a União Europeia e integração
Vieira também ressaltou que a reunião servirá para consolidar laços comerciais na América do Sul continente e discutir estratégias de parcerias com países de outros continentes.
Ele citou, em especial, o acordo do Mercosul com a União Europeia. Negociado desde 1999, o acordo está em fase final de concretização, mas ainda tem resistência por parte de alguns países.
Na Europa, há críticas com relação à política ambiental na América do Sul. Por sua vez, governos sul-americanos veem na resistência de países europeus uma tentativa de protecionismo diante da competitividade do agronegócio no Mercosul.
"No caso das relações com a União Europeia, constato que, não obstante as eleições realizadas para o parlamento europeu, nosso objetivo de alcançar um acordo ambicioso e equilibrado segue vigente. Foi possível estabelecer uma dinâmica positiva nessa negociação e, inclusive, chegamos a entendimentos em temas centrais para o Brasil, como compras governamentais. Vemos os próximos meses como grande oportunidade para lograr os avanços necessários para a conclusão de um acordo que buscamos há mais de duas décadas", disse o ministro.
Em sua fala, ele deu o tom do governo Lula sobre a integração regional:
"Gostaria de reafirmar o compromisso do Brasil com um MERCOSUL cada vez mais integrado com nossos irmãos da América do Sul e da América Latina e do Caribe, bem como com importantes parceiros em todo o mundo. Para enfrentar os desafios globais e fortalecer a nossa região, devemos, primeiramente, fortalecer nosso bloco, com instituições robustas, maior integração de nossas cadeias produtivas, mais cooperação e, acima de tudo, com a constante defesa dos nossos princípios fundadores: a paz e a democracia como elementos-chave do processo de integração", completou Vieira.