G1 - PolÃtica
Governo enfrentou derrotas no Congresso esta semana, em meio a pressão para reduzir gastos. Lula estremeceu o mercado ao enfatizar que não vai apartar agenda social de economia, e precisou sair em defesa do ministro. Ministro da Fazenda Fernando Haddad.TON MOLINA/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDOOs desafios do governo com a pauta econômica têm se acentuado ao longo desta semana, em meio a problemas de articulação no Congresso e dificuldades de arrecadação. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no entanto, reiterou que não vai abrir mão da agenda social do governo, restando ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a responsabilidade de tentar abaixar temperatura no mercado.Nesta quinta-feira (13), Haddad afirmou que a equipe econômica do governo vai intensificar a agenda de trabalho em relação aos gastos públicos, e que deve focar, nas próximas semanas, na revisão de despesas."Eu tenho dito isso, queremos também rever o gasto primário, estamos dispostos a cortar privilégios", declarou o titular da Fazenda. "Já voltaram à tona vários temas que estão sendo discutidos de novo, o que é bom, como supersalários, como correção de benefícios que estão sendo praticados ao arrepio da lei, melhoria dos cadastros, isso voltou para mesa, e nós achamos que é ótimo isso acontecer porque vai facilitando o trabalho de entregar as contas", seguiu.O ministro tentou colocar "panos quentes" na situação, depois de uma nova derrota no Congresso, com a devolução da medida provisória do PIS/Cofins (relembre mais abaixo) e depois de o mercado financeiro ter reagido negativamente a falas de Lula. O chefe do Executivo afirmou na quarta-feira (12) não pensar a economia do país de forma apartada de medidas voltadas ao desenvolvimento social.Após a declaração, o dólar subiu, avançou 0,86% e atingiu R$ 5,4066, maior patamar desde janeiro de 2023. Nesta quinta, depois que Haddad falou em revisão de gastos, a moeda interrompeu uma sequência de alta. Às 15h39, o dólar operava em queda de 0,62%, cotado a R$ 5,3733. No mesmo horário, o Ibovespa caía 0,07%, aos 119.849 pontos.Com uma maior percepção de risco interno em meio às incertezas com o quadro fiscal, os investidores voltaram a monitorar falas do ministro da Fazenda.Miriam Leitão: Haddad sai enfraquecido com volta da MPMinistro tensionadoA situação começou a se complicar ainda na terça-feira (11), quando o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), decidiu devolver ao Executivo a medida provisória que muda regras de dedução do PIS/Cofins para compensar a perda deste ano com a desoneração da folha de pagamento de 17 setores. O texto, defendido por Haddad e secretários, alterava regras do PIS/Cofins para elevar receitas e compensar as despesas com a desoneração da folha de pagamentos. A expectativa era de que a MP fosse gerar aumento de R$ 29 bilhões na arrecadação em 2024.Pacheco acabou devolvendo a medida sob argumento de que o texto, ao alterar regras sobre tributos, deveria adotar um prazo para que essa mudança passasse a valer. Esse é o princípio da noventena. Antes de ser devolvida, a MP foi muito criticada por empresários, que disseram que o texto geraria inflação. O movimento foi visto como mais uma derrota para o Executivo e, de com a colunista do g1 Andréia Sadi, Haddad vem recebendo pressão de setores do PT e também tem sido questionado pelo mercado financeiro acerca de sua capacidade para concretizar a agenda econômica do governo.Coube a Lula, então, sair em defesa do ministro. Em viagem à Genebra, na Suíça, nesta quinta-feira (13), o presidente classificou o titular da Fazenda como "extraordinário" e negou qualquer tensão sobre Haddad. "Não tem nada com o Haddad, ele é extraordinário ministro, não sei qual é a pressão contra o Haddad. Todo ministro da Fazenda, desde que eu me conheço por gente, ele vira o centro dos debates, quando a coisa dá certo, quando a coisa não dá certo", declarou o presidente da República.Lula também respondeu sobre a MP do PIS/Cofins e disse que, com a devolução da MP, caberá ao Senado e a empresários encontrar uma alternativa para compensar a desoneração."O Haddad tentou ajudar os empresários construindo uma alternativa à desoneração feita para aqueles 17 grupos de empresários. Que nem deveria ter sido o Haddad para assumir essa responsabilidade, mas o Haddad assumiu, fez uma proposta. Os mesmos empresários não quiseram. Então, agora tem uma decisão da Suprema Corte, que vai acontecer. Se, em 45 dias não houver acordo sobre compensação, o que vai acontecer? Vai acabar a desoneração", disse Lula."Agora, a bola não está mais na mão do Haddad. A bola está na mão do Senado e na mão dos empresários. Encontrem uma solução, o Haddad tentou. Não aceitaram, agora encontrem uma solução", completou o petista.