G1 - PolÃtica
Banco do Brasil é a instituição que mais opera contratos na Amazônia. Falhas na fiscalização têm permitido concessão de créditos rurais a propriedades que desmatam. BB diz observar critérios socioambientais. Greenpeace faz ato em frente ao Banco do Brasil contra financiamentos para acusados de desmatamentoAtivistas do Greenpeace Brasil promoveram nesta segunda-feira (15) um protesto em frente à sede do Banco do Brasil em Brasília e pediram a revisão dos contratos de concessão de crédito rural.Segundo os ativistas, o objetivo da ação foi demonstrar as consequências da falta de controle adequado na concessão desses recursos.A entidade diz que brechas e falhas na fiscalização têm permitido a liberação do dinheiro a propriedades rurais acusadas de desmatamento da Amazônia – algumas localizadas dentro de terras indígenas. O Banco do Brasil é o maior operador desses recursos no bioma. A instituição contesta e afirma que a política de crédito do banco observa critérios socioambientais (leia mais aqui)."[A gente pede] que o banco revise imediatamente as operações de crédito rural e cancele ou suspenda aquelas em que foram encontradas irregularidades socioambientais. Que faça monitoramento contínuo, pois muitas vezes o dano ambiental ocorre depois que o crédito foi concedido", afirmou a porta-voz do Greenpeace Brasil, Cristiane Mazzetti. O levantamento sobre o financiamento de propriedades acusadas de irregularidades socioambientais integra um relatório do Greenpeace Brasil divulgado na semana passada chamado "Bancando a Extinção; Bancos e investidores como sócios no desmatamento".Segundo a entidade, de 2018 a 2022, cerca de 800 fazendas embargadas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) receberam crédito rural (saiba mais)."Esperamos que o banco aumente o rigor das suas regras para concessão de créditos, para que o dinheiro não chegue em áreas problemáticas", destacou Cristiane.ProtestoCerca de 30 ativistas compareceram à sede do banco na manhã desta segunda-feira para protestar contra a liberação irregular dos créditos rurais.Eles tentaram erguer um cenário que mostrava uma floresta desmatada, mas foram impedidos pelos seguranças da instituição. Apesar disso, a manifestação transcorreu de forma pacífica.Ativistas do Greenpeace durante ato contra a concessão de crédito a propriedades rurais acusadas de desmatamentoLuiz Felipe Barbiéri/g1LevantamentoSegundo o relatório "Bancando a Extinção", três bancos públicos lideram a operação de crédito rural em estados da Amazônia Legal. Juntas, essas três instituições respondem por aproximadamente 70% dos valores dos contratos:Banco do Brasil: R$ 33,5 milhões ou 44,10%Caixa Econômica Federal: R$ 10,6 milhões ou 13.99%Banco da Amazônia: R$ 9,2 milhões ou 12,15%No total, 164 instituições, entre bancos públicos e privados, cooperativas e sociedades de crédito , intermediaram contratos na Amazônia Legal em 2022.O crédito rural, que existe desde os anos 60, é tido como um importante incentivo do governo ao setor, que permite a concessão de crédito facilitado e até com auxílio do governo federal. Nos seis primeiros meses da safra atual (2023/2024) já foram concedidos mais de R$ 200 milhões em empréstimos.Segundo a ONG, no entanto, esse dinheiro tem financiado atividades agropecuárias em propriedades situadas dentro de terras indígenas e com histórico de desmatamento. Os números apontam que quase 800 imóveis rurais embargados pelo Ibama receberam crédito rural entre 2018 e 2022. Um dos casos incluídos no relatório é de um sítio que fica na na Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia.A propriedade tem criação de gado e entre 2018 e 2021 conseguiu R$ 87 mil de empréstimo para a produção de pecuária. Além de estar em uma área de reserva, o CAR da propriedade estava suspenso desde de 2017, o que não impediu o acesso aos valores.O levantamento mostra ainda que mais de 29 mil propriedades denunciadas por desmatamento no bioma amazônico receberam crédito rural, bem como:10.074 propriedades inseridas totalmente ou parcialmente em unidades de conservação24 propriedades dentro de 7 terras indígenas21.692 imóveis com sobreposição a florestas públicas não destinadasOutro ladoO Banco do Brasil afirmou em nota que "a política de crédito do banco observa critérios socioambientais na análise e condução de empréstimos e financiamentos"."Exige-se dos tomadores de crédito a apresentação de documentos que comprovem a regularidade socioambiental dos empreendimentos. O Banco do Brasil possui processo automatizado, com uso de soluções analíticas e inteligência artificial, que verifica se a área a ser financiada possui restrições legais ou vedações normativas, utilizando bases públicas restritivas", afirmou a instituição.De acordo com o banco, as operações de crédito contam com cláusulas que permitem a decretação do vencimento antecipado e a suspensão imediata dos desembolsos em caso de ocorrência de influências socioambientais. "O Banco do Brasil se abstém de comentar operações e serviços prestados, em respeito ao sigilo bancário, comercial e empresarial. Na página de sustentabilidade do BB constam exemplos da aplicação prática de nossa diligência social, ambiental e climática".