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G1 - Política

Eleições municipais acirram disputa entre governo e Congresso por maior controle do Orçamento

Emendas só podem ser liberadas até início de julho.


Emendas só podem ser liberadas até início de julho. Presidente da Câmara, Arthur Lira, tem pressa. Com pleito se aproximando, deputado tenta demonstrar força e agradar aliados. A abertura do ano legislativo nesta semana foi marcada por um discurso inflamado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), motivado pelo acirramento da disputa entre governo e Congresso por um maior controle de verbas do Orçamento, e pela proximidade das eleições municipais (entenda mais abaixo).

Em tom de cobrança, Lira disse que o Orçamento não pertence apenas ao Poder Executivo e defendeu a prerrogativa dos parlamentares de indicar a aplicação do dinheiro da União e não apenas "carimbá-lo".

A disputa pelo Orçamento tem a ver com as eleições porque o dinheiro das emendas parlamentares vai direto para obras eleitorais de deputados e senadores. Com isso, fica mais fácil de o parlamentar conseguir eleger aliados em suas bases eleitorais.

Tensão entre Lira e governo refletem em agenda

Pela legislação eleitoral, é proibida a liberação dessas emendas depois de julho, três meses antes do pleito — marcado para 6 de outubro. Por isso, a pressa de Lira.

Como Lira é um dos líderes do chamado Centrão — bloco informal que reúne parlamentares de legendas de centro e centro-direita — e um dos deputados mais influentes, o Palácio do Planalto teme que as emendas sejam concentradas entre os aliados desse grupo político.

O governo tem interesse em investir em obras pelo país que estejam identificadas com a gestão Lula, o que facilitaria a eleição de aliados do petista.

Defesa dos acordos

O discurso de Lira em defesa das prerrogativas dos parlamentares sobre o Orçamento é considerado por aliados uma defesa dos acordos fechados pelo governo com a Câmara, sobretudo em relação às emendas parlamentares (leia mais abaixo).

Os congressistas chegaram a aprovar um calendário para liberação do dinheiro pelo Executivo, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou sancionar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

"Ele [Lira] está defendendo que o acordo aconteça. Nós temos prazos. Este ano, devido às eleições, foi aprovado um cronograma de pagamento das emendas, e isso não é nada contra o governo, isso é a favor das prefeituras do Brasil inteiro, prefeituras de todos os partidos", afirmou o líder do PL pelo Rio de Janeiro, Altineu Côrtes.

O deputado defende a agilidade na apreciação dos vetos feitos pelo governo ao Orçamento.

"Eu acho que a apreciação do veto ao Orçamento deva acontecer o mais rápido possível, porque houve uma quebra de acordo. Tanto é que os deputados do próprio PT aprovaram o Orçamento, técnicos do governo, ministros participaram dessa discussão", prosseguiu Côrtes.

O governo, por sua vez, tenta postergar a votação para depois de 22 de março, quando será apresentado o relatório de avaliação de receitas e despesas primárias, com o qual pretende sensibilizar os parlamentares sobre a inviabilidade de se criar um calendário para liberação de emendas.

Valor recorde

O Congresso aprovou R$ 53 bilhões para emendas parlamentares em 2024, um recorde. Mas o Palácio do Planalto vetou parte desse montante ao sancionar o Orçamento deste ano, o que provocou reação de deputados e senadores.

Nesse contexto, as críticas de Lira recaem principalmente sobre o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, responsável pela articulação política do governo.

Parte dos deputados considera que o ministro falha no cumprimento de acordos e tem pouca interlocução com os parlamentares.

Aliados do governo no Congresso e o próprio Padilha têm procurado minimizar o episódio, dizendo que não há novidades na fala de Lira. O presidente já havia demonstrado insatisfação com Padilha e cobrado a liberação de emendas.

"A Câmara nem pode ser carimbadora, nem o Executivo pode transferir as suas funções para a Câmara, como o presidente Bolsonaro transferiu. É bom que se diga: houve uma deformação da relação. Então cada qual no seu: o Executivo executa, governa, e a Câmara aprova as leis e, com base na Constituição, aprova o orçamento que convém ao país, ao governo, ao Poder Executivo e ao Poder Legislativo", afirmou o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE).

Reunião cancelada

O mal-estar entre o presidente da Câmara e o Executivo, no entanto, levou ao adiamento de uma reunião que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, teria com líderes partidários da Câmara nesta terça-feira (6).

Ao g1, interlocutores ligados ao governo e à Câmara afirmaram que, após as falas de Lira, não haveria "clima" para o debate da pauta econômica nesta terça. Segundo líderes, também pesou contra o encontro a falta de um convite ao presidente da Câmara.

Para o presidente da Frente Parlamentar Agropecuária, deputado Pedro Lupion (PP-PR), o recado do presidente da Câmara foi claro e vai exigir do governo a construção de uma articulação política que, segundo ele, "inexiste" atualmente.

"O governo vai precisar fazer alguma coisa. O recado foi claro. É uma demonstração de força do presidente em defesa dos acordos que foram fechados com as lideranças na Câmara", afirmou.

Vetos e MP da reoneração

Durante o recesso, o veto do presidente Lula a parte das emendas parlamentares e o envio de uma medida provisória (MP) contrária às decisões dos próprios congressistas, acirraram os ânimos em Brasília.

Deputados e senadores consideraram uma afronta ao Legislativo a tentativa de o governo propor, a partir da MP, a reoneração e o fim do Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse).

As decisões do governo já sinalizavam um início de ano difícil para o Planalto no parlamento, mas a crise escalou após as cobranças de Lira na cerimônia de abertura do ano Legislativo.

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