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Em encontro com Papa Francisco, Caetano Veloso pede oração por crianças vítimas de violência no Rio

Em um raro encontro privado com o Papa Francisco no Vaticano, nesta quinta-feira (28), o cantor e compositor Caetano Veloso pediu um oração do Santo Padre pelas crianças da violência no Rio de Janeiro.

Por André Miranda

28/09/2023 às 12:22:23 - Atualizado há
Em um raro encontro privado com o Papa Francisco no Vaticano, nesta quinta-feira (28), o cantor e compositor Caetano Veloso pediu um oração do Santo Padre pelas crianças da violência no Rio de Janeiro.

Caetano listou as dez crianças que já morreram por armas de fogo neste ano na região metropolitana do Rio – inclusive, a menina Eloah da Silva Santos, de 5 anos, atingida por um tiro quando estava em casa no Morro do Dendê.

Na carta, também citou a violência que tomou conta da Bahia nessas últimas semanas – Caetano é de Santo Amaro da Purificação, no interior do estado.

"Diante dessa situação de agravamento da violência no Brasil peço que Vossa Santidade volte o seu olhar e suas orações para o nosso país. Tenho certeza de que sua mensagem de paz será ouvida no país que tem como padroeira Nossa Senhora Aparecida", escreveu Caetano na carta entregue ao Papa.

Caetano estava acompanhado da esposa Paula Lavigne. No encontro, o Papa Francisco fez um pedido ao brasileiro: "Continue espalhando amor com suas músicas.

No texto entregue ao Papa, Caetano lembrou de sua mãe, Dona Canô, que lutava pela defesa da despoluição do Rio Subaé e fazia campanhas pelas restauração da Igreja de Nossa Senhora da Purificação. E que sua maior emoção foi quando a igreja recebeu uma imagem de Nossa Senhora.

Caetano está em turnê na Europa com o show do álbum "Meu Coco" e fez apresentação recente em Roma, na Itália.

Além da audiência com o Papa – um compromisso normalmente reservado a chefes de Estado e governo e a altas autoridades –, o músico também passeou pelos Jardins do Vaticano e pela Capela Sistina.

Leia abaixo a íntegra da mensagem entregue por Caetano Veloso ao Papa:

Vaticano, 28 de setembro de 2023

Vossa Santidade, Papa Francisco,

É com alegria especial que chego aqui, na Santa Sé, para este encontro. Sou da cidade de Santo Amaro da Purificação. E desde menino acompanhava encantado a minha mãe, Dona Canô, com seus gestos de simplicidade, afeto e sabedoria.

Ela lutava em defesa da despoluição do Rio Subaé e fazia campanhas pela restauração da igreja de Nossa Senhora da Purificação, da qual sempre foi ardorosa devota.

Em 2007, na festa do centenário dela, a família, amigos e a cidade de Santo Amaro promoveram durante o ano uma série de homenagens à dona Canô. E o que nela provocou maior emoção foi a Igreja da Purificação receber a imagem peregrina de Nossa Senhora Aparecida.

É com esses ensinamentos de paz que chego aqui, diante de Vossa Santidade.

Nesses 10 anos de pontificado do primeiro Papa da América Latina, jesuíta e de nome Francisco, tenho acompanhado suas posições denunciando injustiças, alertando para a situação dos migrantes e sendo o autor da primeira encíclica ambiental: Laudato si – Sobre o cuidado da casa comum. O texto é uma advertência necessária sobre as responsabilidades humanas nas alterações climáticas.

Santo Padre, onde moro, na cidade do Rio de Janeiro, a violência atingiu índices iguais aos das grandes guerras pelo mundo. E o pior: vitimando cada vez mais crianças. A lista de meninos e meninas mortos por armas de fogo na Região Metropolitana do Rio assombra. Só este ano, 10 crianças morreram dessa forma.

Recentemente, entrou nesta estatística a menina Eloah da Silva dos Santos, de 5 anos, atingida por um tiro quando estava em casa, no Morro do Dendê, comunidade da Ilha do Governador, Zona Norte do Rio.

As vítimas têm em comum o fato de terem tido uma morte repentina enquanto viviam seus cotidianos. Com idades entre 9 e 13 anos. A chamada "guerra às drogas" até hoje não reduziu o comércio ou o uso delas. Mas o número de jovens, em sua maioria negros, mortos a bala não para de crescer.

Esse destino trágico também vitimou: Juan Davi de Souza Faria, 11 anos; Rafaelly da Rocha Vieira, 10 anos; Maria Eduarda Carvalho Martins, 9 anos; Ester de Assis Oliveira, 9 anos; Jhenyfer Luz Silva de Souza, 12 anos; Lohan Samuel Nunes Dutra, 11 anos; Yan Gabriel Marques, 12 anos; Dijalma de Azevedo, 11 anos; Thiago Menezes Flausino, 13 anos.

A violência também tomou conta da Bahia, estado em que nasci há 81 anos. Estou assustado ao constatar que - apenas nestes primeiros 24 dias de setembro - já foram registradas pelo menos 46 mortes em confrontos policiais em todo o estado. A proporção é de quase duas mortes por dia neste mês. Essas mortes aconteceram principalmente em bairros periféricos de Salvador, como Alto das Pombas, Calabar, Valéria e Águas Claras.

Diante dessa situação de agravamento da violência no Brasil peço que Vossa Santidade volte o seu olhar e suas orações para o nosso país. Tenho certeza de que sua mensagem de paz será ouvida no país que tem como padroeira Nossa Senhora Aparecida.

Com profunda admiração, meu abraço fraterno e meu pedido de socorro.

Caetano Veloso
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