No fim de semana, presidente determinou que aeronave transportasse deportados dos EUA no trajeto Manaus-BH para que eles não fossem algemados. Segundo PF, uso de algemas no voo é praxe. Lula participa da cerimônia no Palácio do Planalto.
Fátima Meia/Enquadrar/Estadão Conteúdo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comandará na tarde desta terça-feira (28) no Palácio do Planalto uma reunião com ao menos seis ministros e representantes das Forças Armadas e da Polícia Federal para discutir a deportação de cidadãos brasileiros dos Estados Unidos, disseram pessoas ligadas ao governo à GloboNews e à TV Globo.
A reunião acontece um dia após o encarregado de negócios da Embaixada dos EUA, Gabriel Escobar, ter sido chamado a dar explicações ao Ministério das Relações Exteriores (MRE). No último fim de semana, o episódio envolvendo os brasileiros deportados dos Estados Unidos algemados gerou tensão entre os dois países.
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Isso porque o governo Lula não permitiu que os brasileiros fossem transportados algemados no trajeto entre Manaus (AM) e Belo Horizonte (MG).
Assim, por ordem do presidente Lula, uma aeronave da Força Aérea Brasileira foi à capital amazonense buscar o grupo, formado por 88 pessoas, e levá-lo ao Aeroporto Internacional de Confins, na região metropolitana de BH.
Segundo a Polícia Federal, o uso de algemas durante o voo é praxe. Integrantes do governo avaliaram que, embora a política migratória dos Estados Unidos caiba ao próprio país, a partir do momento que as pessoas chegam ao solo brasileiro cabe ao governo do Brasil definir o que acontece dali em diante.
De acordo com a Secretaria de Comunicação Social, devem participar da reunião Lula diversas autoridades, entre as quais:
Geraldo Alckmin, vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio Exterior;
ministros: Mauro Vieira (Relações Exteriores), Ricardo Lewandowski (Justiça), Macaé Evaristo (Direitos Humanos), José Múcio (Defesa);
Andrei Rodrigues, diretor-geral da Polícia Federal;
Marcelo Damasceno, comandante da Força Aérea;
Celso Amorim, assessor especial de Lula para assuntos internacionais.
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Brasil não quer provocar EUA
Nesta segunda, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, disse que os brasileiros deportados dos Estados Unidos devem ser tratados com dignidade e devem ter os direitos fundamentais garantidos e que isso não deve ser tratado como provocação ou afronta ao governo norte-americano.
"Tivemos uma reação muito sóbria. Não queremos provocar o governo americano, até porque essa deportação está prevista em um tratado que vigora há vários anos entre o Brasil e os Estados Unidos e que autoriza a deportação", afirmou o ministro.
"Não queremos afrontar quem quer que seja, mas queremos que os brasileiros inocentes, que foram buscar trabalho fora porque eventualmente aqui não tiveram oportunidade, sejam tratados com dignidade", completou Lewandowski.
Em nota, ainda no domingo, o Ministério das Relações Exteriores afirmou que o uso "indiscriminado" de algemas fere o que Brasil e EUA acordaram sobre a deportação, acrescentando ser "inaceitável" o descumprimento.
Financiamento
A TV Globo também apurou que o governo vai discutir na reunião desta terça o financiamento de ações para o acolhimento de imigrantes que chegam ao Brasil, por meio da Operação Acolhida.
Nesta semana, os Estados Unidos suspenderam repasses para equipes da Organização Internacional para as Migrações (OIM), braço da Organização das Nações Unidas (ONU) para atendimento a migrantes e refugiados.