G1 - PolÃtica
Filme de Walter Salles concorre em duas outras categorias: Melhor Filme Internacional e Melhor Filme. Fernanda Torres dá entrevista ao 'Estúdio i'Reprodução"Eu acho que Eunice viveu tempos parecidos com o que a gente está vivendo, né? Ela viveu o período da Guerra Fria. Eu costumo dizer que ela, a família dela, o Rubens Paiva, foram vítimas da Guerra Fria, que é um período muito distópico de medo do Armagedom, medo do botão vermelho. Eu acho que a gente está vivendo um período parecido, assim, distópico no mundo".Indicada ao Oscar de Melhor Atriz por Ainda Estou Aqui, Fernanda Torres disse em entrevista ao Estúdio i, nesta quinta-feira (23), que, ao falar sobre a ditadura no Brasil, prefere tratar do assunto como parte da geopolítica global e não como uma "republica das bananas".A história da família Paiva, vítima da ditadura militar, chegou aos cinemas em 7 de novembro de 2024. O filme, dirigido por Walter Salles, disputa a estatueta de melhor filme internacional e concorre, ainda, na principal categoria da premiação, a de Melhor Filme.Fernanda Torres foi indicada ao Oscar 2025 de Melhor Atriz por sua intepretação de Eunice Paiva no filme de Walter Salles. Essa é a segunda vez que uma brasileira disputa essa categoria. A primeira vez foi há 26 anos, quando a mãe, Fernanda Montenegro, disputou o Oscar de Melhor Atriz por "Central do Brasil" (1998), filme que também foi dirigido por Walter Salles. A atriz diz que preferiu não assistir à revelação dos indicados. "Eu estava no meu quarto. Andrucha [esposo] e Joaquim, meu filho, subiram [ao quarto] e falaram: 'Nanda, rolou'".A história da família Paiva em 'Ainda Estou Aqui'O filme acompanha Eunice Paiva, uma advogada brasileira que foi casada com o ex-deputado Rubens Paiva. O político desapareceu em 1971 durante o regime militar. Ele foi torturado e morto. A incansável busca de Eunice por justiça a transformou em um símbolo de resistência contra a ditadura.A história foi contada no livro "Ainda Estou Aqui", lançado em 2015 pelo escritor Marcelo Rubens Paiva, filho de Eunice e de Rubens Paiva. O livro deu origem ao filme de Walter Salles.Maria Lucrécia Eunice Facciolla Paiva nasceu em São Paulo em 1929. Ela conheceu Rubens Paiva em 1947 e eles se casaram em 1952. O casal teve cinco filhos: Marcelo, Veroca, Eliana, Nalu e Babiu.Em 20 de janeiro de 1971 Rubens Paiva foi levado pela polícia da casa em que vivia com a família no Leblon, no Rio de Janeiro, e esta foi a última vez que ele foi visto.Eunice nunca desistiu de buscar a verdade sobre o paradeiro do seu marido. Chegou a ficar presa por 12 dias. A resposta oficial só veio 25 anos depois, quando, em 1996, ela conseguiu um atestado de óbito e o reconhecimento da morte de Rubens Paiva pela ditadura."Posso dizer que eu fico até grata com essa solução que foi dada e acho que é um capítulo encerrado na nossa vida. Agora realmente encerrado, embora a memória do Rubens, a saudade dele, a importância que ele teve para nós a gente mantém, mas num outro plano, no plano da afetividade, da saudade, tudo mais", disse ela na época.O corpo de Rubens Paiva nunca foi encontrado.Eunice era formada em letras e, com o desparecimento do marido, se reinventou: fez direito, se tornou especialista em direito indígena e foi consultora do governo federal, do Banco Mundial e da ONU.Ela morreu aos 86 anos no dia 12 de dezembro de 2018 em São Paulo. Eunice lutava contra o Mal de Alzheimer.