G1 - PolÃtica
Presidente abre 2025 com ajustes na equipe de ministros no radar e o desafio de melhorar a relação com o mercado financeiro. Lula cumprirá o terceiro dos quatro anos do mandato. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) abre o penúltimo ano do terceiro mandato à frente do Palácio do Planalto disposto a corrigir a comunicação do governo, a estabelecer uma relação pragmática com Donald Trump nos Estados Unidos e a viabilizar avanços na preservação ambiental durante a COP 30, a conferência da ONU sobre o clima, que será realizada em Belém.Além disso, também serão desafios para Lula nesta segunda metade do mandato melhorar a relação com o mercado financeiro e de adotar medidas que contribuam para redução da taxa Selic (12,25% ao ano) e da cotação do dólar (acima de R$ 6).Em entrevista ao Fantástico, Lula definiu 2025 como "ano da colheita", mesmo termo usado há um ano quando tratou dos planos de 2024. O petista costuma dizer que tem pressa. Quer consolidar marcas do governo junto à população, organizar o PT e encaminhar alianças partidárias já atento à corrida ao Planalto de 2026.???? Veja mais abaixo detalhes sobre:Banco Central e medidas fiscaisReforma ministerial e alianças para 2026Mudança na comunicaçãoRelação com o CongressoSegurança públicaRelação com TrumpPé-de-Meia para universitáriosRecuperação da cirurgiaLula faz última reunião ministerial de 2024 e diz que não vai interferir no Banco CentralBanco Central e medidas fiscaisLula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmaram que estão atentos à necessidade de novas medidas para garantir o equilíbrio fiscal. O presidente foi aconselhado a melhorar a relação com o mercado, a fim de incentivar a queda da Selic e do dólar, que terão impacto no controle da inflação e na manutenção de números positivos da economia – crescimento do PIB e queda do desemprego e da miséria.O ano marca a troca da presidência do Banco Central com a posse de Gabriel Galípolo, que substitui Roberto Campos Neto, criticado por Lula nos últimos dois anos por conta do patamar da Selic, definida pelo BC. Campos Neto tinha sido indicação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).Já Galípolo foi indicado para o cargo por Lula, a quem auxiliou na campanha de 2022. O novo presidente do BC trabalhou no Ministério da Fazenda e deu conselhos ao governo a respeito do pacote de corte de gastos. Antes da posse, Lula garantiu que não interferirá no BC e Galípolo terá autonomia para trabalhar.Lula e Janja posam com as três cachorras do casal em foto do Natal de 2024Ricardo Stuckert/PRReforma ministerial e alianças para 2026Lula intensificou as discussões sobre uma reforma ministerial no começo de 2025. A intenção deflagrou articulações dentro do governo, do PT e de partidos aliados por espaços no primeiro escalão do petista, composto por 38 ministérios.Aliados do presidente pregam mudanças para melhorar a relação com o Congresso e costurar alianças com partidos visando a eleição de 2026. Lula, que terá 81 anos em 2026, não definiu se tentará o quarto mandato, porém é o nome favorito do PT.Auxiliares de Lula querem usar a reforma para atrair à candidatura petista partidos à direita, como PSD, MDB e União Brasil. A negociação também contemplará as disputas ao Senado em um movimento para tentar isolar candidatos vinculados a Bolsonaro.Mudança na comunicaçãoLula tem se queixado publicamente da comunicação do governo e afirmou que fará as "correções necessárias" para melhorar a divulgação das medidas adotadas por ele, bem como reforçar o enfrentamento com a direita nas redes sociais.O presidente planeja mudanças na área, atualmente comandada pelo ministro da Secretaria de Comunicação (Secom), Paulo Pimenta. Sidônio Palmeira, marqueteiro da campanha de Lula em 2022, é cotado para assumir a pasta que cuida da publicidade, redes sociais e assessoria de imprensa da Presidência.Lula, ministros e parlamentares entendem que aprovação do governo deveria ser maior diante do crescimento do PIB e das quedas do desemprego e da miséria. Ao final da metade do mandato, pesquisa Datafolha indicou que o governo é considerado ótimo ou bom por 35% dos entrevistados, ante 34% que o avaliam como ruim ou péssimo. Na pesquisa Quaest, o governo tem 33% de avaliação positiva e 31% negativa.Relação com o CongressoEm fevereiro, Câmara e Senado escolhem os substitutos de Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG) no comando das Casas. A sucessão está encaminhada. Hugo Motta (Republicanos-PB) é o favorito na Câmara e Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), no Senado.Lula tem o desafio de estabelecer uma boa relação com os novos presidentes, que determinam a pauta de votação de projetos. O Planalto evitou interferir de forma ostensiva nas escolhas, porém auxiliou a viabilizar a candidatura de Motta. Lula manterá a prioridade para aprovar no Congresso pautas voltadas à economia.Segurança públicaLula comentou ao longo de 2024 que deseja enviar ao Congresso uma proposta de emenda à Constituição (PEC) para aumentar a participação da União nas ações de segurança pública. Atualmente, maior parte das responsabilidades cabe aos estados.A proposta foi elaborada pelo Ministério da Justiça e discutida com governadores. Em dezembro, o ministro Ricardo Lewandowski afirmou considerar "enceradas" as negociações, porém o governo não definiu quando enviará a PEC ao Congresso.Lula defende a proposta, em especial, para melhorar o combate ao crime organizado. Entre as principais medidas sugeridas estão integrar as polícias, reforçar o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) e estabelecer políticas unificadas — ao padronizar protocolos, informações e dados estatísticos.Imposto de RendaLula pretende enviar ao Congresso em 2025 o projeto que altera as regras da cobrança do Imposto de Renda (IR). O governo propõe isentar quem recebe até R$ 5 mil mensais e criar uma tributação mínima para pessoas com renda superior a R$ 50 mil por mês.Caso sejam aprovadas, as novas regras entrarão em vigor em 2026. As mudanças nos impostos sobre a renda integram a nova etapa da regulamentação da reforma tributária – a primeira foi aprovada no final de 2024 e tratou de impostos que incidem sobre o consumo. Essa segunda fase deve contemplar mudanças em impostos sobre renda e patrimônio, indo além da isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil.Brics e COP 30 no BrasilLula será o anfitrião em 2025 da cúpula dos países do Brics e da conferência das Nações Unidas sobre o clima, a COP 30. O evento da ONU será realizado em novembro, em Belém, onde chefes de Estado e de governo, empresários, cientistas e ativistas discutirão formas de conter o aquecimento do planeta e de preservar o meio ambiente.A COP em um estado amazônico será o principal evento do governo na área internacional. Lula, que assumiu compromisso de zerar o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030, defende que países ricos repassem recursos para auxiliar nações mais pobres a preservarem florestas e a adotarem medidas de transição energética e adaptação climática.Antes da COP, Lula receberá os governantes dos demais países que integram o Brics. A cúpula deve ocorrer no primeiro semestre. Ainda não foi definida a cidade brasileira que vai sediar o evento. Além do Brasil, o bloco de economias emergentes reúne China, Rússia, Índia, África do Sul, Etiópia, Egito, Emirados Árabes Unidos e Irã. O Brasil preside o grupo em 2025.Relação com TrumpUm dos principais desafios de Lula na área internacional será a relação com os EUA, que voltam a ser governados por Donald Trump a partir de 20 de janeiro. O petista apoiou na campanha a candidata derrotada, Kamala Harris, mas aposta em uma relação pragmática com Trump, a exemplo do que tem feito com o adversário político Javier Milei, da Argentina. Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás da China.Trump promete uma política econômica protecionista, com taxas à produtos importados de diferentes países, em especial da China, o que afetará o equilíbrio dos mercados pelo mundo. O líder americano reclamou recentemente de taxas cobradas pelo Brasil para importar produtos dos EUA.Ainda na área internacional, Lula terá de lidar a partir de janeiro com o novo mandato de Nicolás Maduro no Venezuela - o governo brasileiro não reconheceu a reeleição do presidente.Em outras frentes da política externa, Lula deve insistir na defesa do fim das guerras entre Israel e o Hamas e Ucrânia e Rússia. O presidente também manterá a postura a favor da integração do Mercosul e trabalhará para acelerar os trâmites necessários à implementação do acordo comercial com a União Europeia. Pé-de-Meia para universitáriosO governo planeja expandir o programa Pé-de-Meia para alunos de universidades. O programa em curso paga auxílio financeiro a alunos do ensino médio matriculados em escolas da rede pública. O Ministério da Educação estuda a expansão do programa que, em um primeiro momento, deverá contemplar especificamente estudantes de instituições de ensino superior federais, como cotistas e inscritos no CadÚnico (pessoas de baixa renda que recebem, por exemplo, o Bolsa Família).RecuperaçãoO presidente, que completou 79 anos em outubro, voltou ao trabalho em Brasília na semana anterior à do Natal, mas ainda se recupera de uma cirurgia para drenar um hematoma intracraniano, provocado pela queda sofrida no banheiro do Palácio da Alvorada em outubro. A primeira viagem internacional do petista está programada para o final de março, uma visita oficial ao Japão.Lula inicia 2025 sob cuidados médicos e com a orientação de não exagerar na carga de trabalho pelos próximos meses.