O anúncio do Kremlin de que o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, vai a Moscou visitar o presidente da Rússia, Vladimir Putin, causou grande contrariedade no núcleo do Palácio do Planalto. A notícia pegou de surpresa o governo brasileiro.
Para interlocutores, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem demonstrado cada vez mais irritação com os movimentos erráticos de Maduro.
O anúncio da viagem à Rússia ocorre em meio a um momento de tensão na América do Sul, gerado pela intenção declarada de Maduro de incorporar o território de Essequibo, que pertence à Guiana.
A avaliação feita no início da noite desta sexta-feira (8) é que Maduro, com essa aproximação extemporânea, de uma vez só conseguiu trazer para a América do Sul os Estados Unidos -- que iniciaram exercício militares na Guiana -- e a Rússia, rival dos norte-americanos no cenário externo e aliados da Venezuela.
A percepção de interlocutores de Lula é que, como a Rússia está voltada para a invasão que promoveu na Ucrânia, não terá muita disposição de atravessar o Atlantico para socorrer Maduro nessa empreitada descalibrada. Mas isso vai aumentar a tensão, atraindo para a América do Sul atores de fora do continente.
Lula tem repetido que Maduro está usando a ameaça do referendo de anexar a região de Essequibo como uma forma de tentar se fortalecer internamente, já de olho nas eleições do próximo ano.
Oficialmente, a ordem dentro do governo é insistir em que é preciso uma solução pacífica para a região.
O maior incômodo no núcleo palaciano é que Maduro parece não ter entendido o gesto de Lula, desde que assumiu o governo, de tentar reabilitar o venezuelano politicamente no continente, avalizando o regime do país vizinho e recebendo Maduro com todas as honras em Brasília.