Protesto reuniu Adufac, lideranças católicas, profissionais de saúde e representantes de movimentos populares. Mulheres protestam contra PL do Aborto no Acre
Luana Rodrigues/Rede Amazônica Acre
Preocupadas com a possibilidade de aprovação do projeto de lei (PL) que equipara o aborto após a 22ª semana de gestação ao crime de homicídio simples, grupos de mulheres fizeram um protesto no Centro de Rio Branco. O ato aconteceu no final da tarde desta sexta-feira (14) na Avenida Getúlio Vargas.
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O PL foi apresentado pelo deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que é integrante da bancada evangélica, e prevê que penas que podem variar de 6 a 20 anos de prisão em casos de aborto. A pena é maior que a aplicada em casos de estupro, que fica entre seis e 10 anos de reclusão.
Marte Porto
Luana Rodrigues/Rede Amazônica Acre
"Esse tipo de ação faz com que as mulheres tenham uma menor possibilidade de acessar seus direitos. Seus direitos sexuais, seus direitos reprodutivos, seus direitos humanos. É um projeto de lei que tenta responsabilizar, punir a vítima do estupro", ressaltou a professora universitária Marte Porto.
A docente ressaltou ainda que a proposta tem potencial para revitimizar não apenas pessoas com útero adultas, mas principalmente crianças em adolescentes.
"A gente tem que pensar que a maioria das mulheres estupradas são meninas até 14 anos ou menos e elas nem sabem muitas vezes que estão grávidas, nem sabem que o que aconteceu com elas é uma ação que leva a gestação e quando elas vão descobrir é porque alguém descobre e aí se passou muito tempo", argumentou.
Mulheres protestam contra PL do Aborto no Acre
Luana Rodrigues/Rede Amazônica Acre
O ato foi organizado pelo comando de greve da Associação dos Docentes da Ufac (Adufac) e reuniu membros de diversos movimentos populares, incluindo profissionais de saúde e lideranças católicas. Homens que simpatizam com a causa também participaram.
"A gente precisa discutir a partir da saúde pública e dos estudos e isso não confronta religião. Cada um com a sua religião vai poder fazer suas escolhas. O problema é pegar a convicção religiosa de um grupo e determinar para toda a população em um país laico", finalizou.
Mulheres protestam contra PL do Aborto no Acre
Luana Rodrigues/Rede Amazônica Acre
Entenda o projeto
O texto altera o Código Penal e estabelece a aplicação de pena de homicídio simples nos casos de aborto de fetos com mais de 22 semanas nas situações em que a gestante:
provoque o aborto em si mesma ou consente que outra pessoa lhe provoque; pena passa de prisão de 1 a 3 anos para 6 a 20 anos;
tenha o aborto provocado por terceiro com ou sem o seu consentimento; pena para quem realizar o procedimento com o consentimento da gestante passa de 1 a 4 anos para 6 a 20 anos, mesma pena para quem realizar o aborto sem consentimentos, hoje fixada de 3 a 10 anos.
A proposta também altera o artigo que estabelece casos em que o aborto é legal, para restringir a prática em casos de gestação resultantes de estupro.
Conforme o texto, só poderão realizar o procedimento mulheres com gestação até a 22ª semana. Após esse período, mesmo em caso de estupro, a prática será criminalizada.
A proposta é assinada por 32 deputados, incluindo o segundo vice-presidente da Casa, Sóstenes Cavalcante, e o presidente da bancada evangélica, Eli Borges (PL-TO).
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Atualmente, quando o aborto é permitido?
O aborto é crime no Brasil, mas existem três situações em que ele é permitido. São os casos de aborto legal:
se o feto for anencéfalo;
se a gravidez for fruto de estupro;
se a gravidez impuser risco de vida para a mãe.
Para os casos de gravidez de risco e anencefalia, é necessário apresentar um laudo médico que comprove a situação. Além disso, um exame de ultrassonografia com diagnóstico da anencefalia também pode ser pedido.
Já para os casos de gravidez decorrente de violência sexual - e estupro engloba qualquer situação em que um ato sexual não foi consentido, mesmo que não ocorra agressão -, a mulher não precisa apresentar Boletim de Ocorrência ou algum exame que ateste o crime. Basta o relato da vítima à equipe médica.
Apesar de parecer simples, não é. Mesmo que não seja necessário "comprovar" a violência sexual, muitas mulheres (e meninas) sofrem discriminação nos serviços de saúde na hora de buscar o aborto legal.
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