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Alvo de operação contra terrorismo diz à PF que negou trabalho para 'sequestrar e matar' e que ganhou US$ 600 ao voltar para o Brasil

Em depoimento obtido pelo g1, homem conta que teve encontro com chefe de organização terrorista e que, ao negar trabalho, teve que fazer turismo por Beirute, no Líbano, antes de retornar ao país.

Por André Miranda

09/11/2023 às 20:56:30 - Atualizado há
Em depoimento obtido pelo g1, homem conta que teve encontro com chefe de organização terrorista e que, ao negar trabalho, teve que fazer turismo por Beirute, no Líbano, antes de retornar ao país. Um dos brasileiros alvo da operação de busca e apreensão contra terrorismo da Polícia Federal (PF), na quarta-feira (8), afirmou aos investigadores que recusou um trabalho que envolvia "matar e sequestrar". Segundo ele, a proposta foi feita em Beirute, no Líbano, por um suposto chefe de uma organização terrorista.

O investigado não teve o nome revelado. No depoimento, que foi obtido pelo g1, ele afirmou que estava sendo recrutado pelo Hezbollah para fazer atentados no Brasil.

À PF, ele disse ainda que, após recursar o serviço, recebeu um total de US$ 600 do suposto chefe da organização terrorista antes de retornar ao Brasil.

Agora, a polícia colhe mais indícios sobre o suspeito para decidir sobre pedido de prisão dele à Justiça.

Orientações e encontro com chefe

O brasileiro contou em depoimento que, no dia em que ia viajar ao Líbano, recebeu US$ 400 de um homem em São Paulo.

Ao chegar em Beirute, foi instruído a pegar um táxi no aeroporto e ir direto a um hotel. Ele afirmou que as orientações eram enviadas por WhatsApp de um número de celular do Paraguai.

No dia seguinte, um homem o buscou no local e o colocou em um carro com motorista. Ele afirmou que, neste momento, teriam passado novas orientações para um "encontro com o chefe". O suspeito relatou que viu que os dois estavam armados.

Para ir até este encontro, o brasileiro contou que teve que deixar o celular no hotel e que foi levado para um local próximo, onde foi revistado e colocado dentro de um veículo com cortinas pretas.

Quando chegou ao local do encontro, disse que viu o chefe, que o aguardava com um segurança. A conversa entre os dois contou com a presença de um tradutor, que ficou atrás de um biombo para não ser visto.

Ainda conforme o depoimento, na conversa, o chefe disse que o trabalho "não era uma atividade limpa" e que precisava de gente capaz de "matar e sequestrar".

À PF, o brasileiro relatou que disse ao chefe da suposta organização terrorista que não tinha capacidade de praticar os atos e que não queria desperdiçar o tempo dele.

Em seguida, o homem teria agradecido a sinceridade e que, por cinco horas, deu instruções "sobre a vida". Ao ser dispensado, recebeu US$ 200.

O brasileiro relatou que, no dia seguinte, foi chamado pelo chefe novamente, que negou o trabalho mais uma vez e que recebeu US$ 400. Ele foi orientado a "fazer turismo e tirar muitas fotos" para comprovar, caso necessário, que ele tinha ido ao Líbano para conhecer o país.

Segundo o depoimento, um homem o buscou no hotel e o levou para diversos pontos de Beirute, com todas as despesas pagas.

Ao ser levado ao aeroporto para voltar ao Brasil, o homem afirmou que foi avisado que poderia sofrer consequências muito graves "caso os traísse".

A operação

Tralli: PF não acredita na versão de um dos brasileiros

A divisão antiterrorismo da Polícia Federal em Brasília foi alertada para o fato de que brasileiros, vários deles com passagem criminal, estavam sendo aliciados e contratados por comandantes do Hezbollah, no Líbano, para promover ataques no Brasil.

As investigações descobriram que alguns desses brasileiros fizeram viagens recentes a Beirute para encontros com o Hezbollah e definiram valores pela colaboração em atos terroristas, além da lista de endereços a serem atacados e, ainda, o recrutamento de executores.

Cinco indivíduos foram alvos de medidas cautelares expedidas pela Justiça Federal de MG;

Um cidadão libanês naturalizado brasileiro teve mandado de prisão expedido, que ainda não foi cumprido, pois ele se encontra no Líbano;

Um cidadão sírio naturalizado brasileiro também teve mandado de prisão expedido, mas está em aberto, já que ele se encontra naquele país;

Deste alvo, foram nove mandados de busca em endereços associados a ele em MG e no DF, sendo sete endereços comerciais e dois residenciais;

Um brasileiro teve mandado de prisão e mandado de busca expedidos e cumpridos;

Um segundo brasileiro teve mandado de prisão cumprido;

Um terceiro brasileiro teve mandado de busca cumprido;

Os dois depoimentos dos presos em SP foram colhidos à tarde na sede da PF;

O investigado que chegou de SC ficou em silêncio. O outro suspeito que desembarcou na quarta-feira (8) à noite, em SP, respondeu a algumas perguntas;

A investigação continua para verificar o conteúdo e analisar o material apreendido;

Os dois presos continuam na custódia da PF em SP.
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