Projetos querem obrigar que movimento tenha CNPJ, permitir a proprietário utilizar força policial sem ordem judicial e dar prazo para ações de reintegração de posse. A presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, Caroline De Toni (PL-SC), pautou para esta semana projetos que pretendem combater ocupações de terras no país e tem como alvo o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Deputada Caroline de Toni (PL-SC), presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.
Bruno Spada/Câmara dos Deputados
A pauta está relacionada a ocupações promovidas pela organização neste mês. O movimento contabiliza, até esta segunda-feira, 24 ocupações de terras em 11 estados diferentes.
Segundo o MST, 20 mil famílias estão mobilizadas em prol de ações ligadas à Jornada Nacional de Lutas em Defesa da Reforma Agrária, conhecida como "Abril Vermelho".
O pacote "anti-invasão" é uma demanda da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA) e foi discutido em almoço com a deputada no mês de março.
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Projetos
Um dos projetos pautados para esta terça-feira obriga que as decisões em ações de manutenção ou de reintegração de posse sejam cumpridas em até 48 horas, o que atualmente não está previsto no Código Civil.
Segundo o texto, a autoridade que não cumprir o prazo poderá responder por improbidade administrativa e desobediência depois de 15 dias.
A proposta também aumenta as penas para o chamado "esbulho possessório simples" e cria o crime de esbulho possessório coletivo.
O esbulho possessório é um conceito do direito civil relacionado à perda de posse legítima de uma propriedade de uma forma considerada injusta. Pelo texto, o esbulho possessório simples teria pena de 1 a 4 anos e multa. Atualmente, a detenção é de 6 meses a 1 ano.
Trabalhadores rurais protestam em Parauapebas, no Pará.
Reprodução / MST
O esbulho possessório coletivo teria pena de reclusão de 4 a 8 anos e multa. Se os invasores permanecerem no local mesmo após serem notificados pelo proprietário ou pelas autoridades, a pena deverá ser aumentada de um terço à metade.
O texto também permite a fazendeiros recuperarem a posse por sua própria força ou utilizar força policial, independentemente de ordem judicial.
"Conflitos envolvendo terras no Brasil vêm desde os tempos da colonização e revelam uma histórica e contínua batalha agrária que permanece nos dias de hoje. Registra-se na história que, num dado momento, as ações de posseiros e grileiros renderam ao campo um clima de tensão que culminou em ação de grupos de camponeses rebeldes como Cangaço", afirma o relator, deputado Victor Linhalis (Pode-ES).
CNPJ para movimento
Outro projeto pautado por De Toni e que mira o MST obriga que movimentos sociais e populares tenham personalidade jurídica (CNPJ) para funcionar e receber recursos públicos.
O objetivo é, principalmente, responsabilizar civil e penalmente o movimento quando forem realizadas ocupações. Hoje, o MST não tem um CNPJ.
Apoiadores do movimento dizem que a Constituição não obriga a constituição de personalidade jurídica para defender direitos.