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Preço dos alimentos, relação com evangélicos, comunicação: as apostas do governo para tentar melhorar a popularidade

Resultados das últimas pesquisas incomodaram Lula, que reconheceu que o governo está aquém da expectativa gerada na campanha eleitoral de 2022.

Por André Miranda

24/03/2024 às 05:56:29 - Atualizado há
Resultados das últimas pesquisas incomodaram Lula, que reconheceu que o governo está aquém da expectativa gerada na campanha eleitoral de 2022. Datafolha registrou empate técnico entre aprovação e reprovação de Lula. Ana Flor: Lula aciona ministros e adota estratégias de olho na popularidade

Com a piora da avaliação do governo em diferentes pesquisas de opinião, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seus ministros apostam em uma série de ações para recuperar popularidade ao longo do ano.

Lula e auxiliares têm discutido as últimas pesquisas de avaliação, cujos resultados têm incomodado o presidente, que reconheceu que o governo está aquém da expectativa gerada na campanha eleitoral de 2022.

Pesquisa Datafolha divulgada na última quinta-feira (21), que seguiu a tendência das pesquisas Quaest e Ipec, registrou empate técnico entre aprovação (35%) e reprovação (33%) do governo.

Em relação ao Datafolha de dezembro de 2023, a avaliação positiva do governo oscilou três pontos percentuais para baixo. Já a reprovação oscilou três pontos positivamente. O percentual dos que consideram o governo regular se manteve estável (30%).

Algumas das principais frentes do governo são:

Reforço da comunicação digital do governo;

Execução dos programas anunciados

Redução do preço dos alimentos

Aproximação com setores do agronegócio

Administração da relação com evangélicos

Veja abaixo:

Entregar programas anunciados

Ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), Paulo Pimenta afirmou a jornalistas que o governo não prepara gestos específicos para determinados públicos a fim de recuperar a aprovação.

"Nós entendemos que a política pública para todos e muda a percepção das pessoas como um todo", afirmou.

Pimenta acredita em uma melhora geral na avaliação do governo nos próximos meses conforme os programas já anunciados sejam executados. Uma das principais apostas é o "Pé-de-meia", que irá fornecer incentivo financeiro para estudantes do ensino médio.

Pelo programa, o governo pagará até R$ 9,2 mil aos estudantes que concluírem os estudos. A a expectativa é a de que o programa atenda cerca de 2,5 milhões de alunos.

O Planalto também conta com o impulso na economia e na geração de empregos com as obras do Novo PAC, o programa de infraestrutura do governo federal, que prevê investimentos de R$ 1,6 trilhão nos próximos anos em rodovias, ferrovias, apartamentos, creches, escolas, unidades de saúde e outros.

O ministro da Casa Civil, Rui Costa, já admitiu que muitas das obras previstas, como creches e policlínicas, demoram a sair do papel por conta de etapas burocráticas para contratação dos serviços ou problemas de projetos, porém acredita que áreas como habitação terão bom desempenho em 2024.

Lula se reúne com ministros para discutir alta no preço dos alimentos

Comunicação nas redes

Há uma percepção no Planalto de que o governo não acertou ainda em comunicar as ações desenvolvidas ao longo do mandato e dos índices positivos da economia, a exemplo da alta do PIB (2,29%), da inflação controlada, do dólar estável na faixa de R$ 5 e da geração de empregos.

O governo aposta em ajustes na estratégia de comunicação, em especial na internet. Uma das preocupações é a disputa de narrativas com a extrema-direita.

Lula se reuniu recentemente com o publicitário Sidônio Palmeira, marqueteiro da campanha em 2022, e o sociólogo Marcos Coimbra, presidente do Instituto Vox Populi. Após o encontro, o presidente fez postagens informais nas redes sociais, como um vídeo correndo de bermuda e regata no Palácio da Alvorada.

Ministro da Secretaria de Comunicação (Secom), Paulo Pimenta afirmou a jornalistas que a contratação de agências que atuarão na comunicação digital do governo permitirá a distribuição de conteúdo direcionado para públicos de perfis distintos, selecionados por renda, idade, região e outros filtros.

Interlocutores da Secom reclamam que a pasta não tem dinheiro e estrutura para executar essa política digital. A licitação, com gasto estimado de R$ 200 milhões e que deve ser concluída nos próximos meses, contratará quatro agências.

Integrantes do governo, segundo fontes, acreditam que as agências ajudarão o a monitorar o que as pessoas pensam no ambiente virtual, em especial nos temas mais sensíveis, a exemplo da pauta de costumes. A ideia é, também, abastecer influenciadores parceiros com conteúdo baseado na pauta do dia.

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Preço dos alimentos

O governo mapeou que parte da insatisfação registrada nas pesquisas se deve a alta do preço dos alimentos.

Alimentação e bebida foi um dos grupos cujos preços subiram em fevereiro, conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A alimentação no domicílio teve alta forte (1,12%), por influência das temperaturas mais elevadas neste início de ano e um maior volume de chuvas que prejudica a safra de produtos, segundo o IBGE. Subiram os preços da cebola (7,37%), da batata-inglesa (6,79%), das frutas (3,74%), do arroz (3,69%).

Os ministros Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) e Carlos Fávaro (Agricultura) atribuíram o problema a questões climáticas que atrapalharam a produção, em especial de arroz, e preparam ações para a próxima safra (2024-2025).

Após reunião com Lula, os ministros projetaram que, com o avanço da colheita de arroz, os preços tendem a reduzir já no mês de abril. O governo também terá medidas para incentivar o cultivo de arroz, feijão, trigo, milho e mandioca em diferentes regiões do país, a fim de descentralizar a produção e aumentar a oferta de produtos que compõem a dieta básica das famílias.

Agronegócio

Na tentativa de superar resistências do agronegócio, setor que apoio Bolsonaro de forma majoritária, Lula começou a organizar encontros com representantes do setor na Granja do Torto, residência de campo da Presidência da República em Brasília. O primeiro encontro aconteceu na quinta-feira (21), com o setor de fruticultura e produção de sucos.

Houve uma reunião de trabalho mais formal, em que representantes do setor sentaram-se à mesa com o presidente, ministros e outros auxiliares do governo. Em seguida, foi servido um churrasco aos participantes. A Granja do Torto era muito utilizada por Lula nos dois primeiros mandatos como um espaço de confraternização com parlamentares.

O governo planeja fazer esses encontros a cada 15 dias. Segundo o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, Lula deve se reunir com produtores de algodão, carne, celulose e café.

"Certamente, ao final do mandato, eu quero garantir que a imensa maioria dos produtores, independentemente em quem vão votar em 2026, vão reconhecer que terá sido um grande governo para a agropecuária brasileira", afirmou Fávaro após o encontro de quinta.

"Se não estamos em um nível de paixão total, já há um grande reconhecimento porque muito dos temores plantados na campanha eleitoral eram mentiras, eram fake news", acrescentou o ministro.

Evangélicos

Lula não pretende no momento fazer um aceno específico aos evangélicos, segmentos da população em que o presidente tem rejeição mais alta e que a posição conservadora nos costumes diverge de pautas dos partidos de esquerda.

Lula disse durante a reunião ministerial da última segunda-feira (18) que é cobrado para falar com pastores e lideranças evangélicas, algo que já fez no passado. Mas, para ele, o problema não é esse, já o governo precisa combater as fake news que impactam esse segmento da população.

A aproximação com esse grupo se dá no Congresso Nacional. Durante a semana, houve uma reunião do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, com a bancada evangélica na Câmara. Após o encontro, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), disse que os evangélicos querem ser ouvidos pelo governo na construção de políticas. Guimarães defendeu que o pedido da bancada é cabível.

Em paralelo, o governo busca não reagir de forma incisiva à pauta conservadora aprovada por deputados e senadores: como a PEC das drogas, PEC das igrejas e o projeto de lei que acaba com as saídas temporárias nos presídios. Líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), já manifestou que é contrário ao veto integral de Lula no projeto das saidinhas, recém-aprovado.
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