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Brasil não pode ser 'complacente' com mortes em Gaza, por isso subiu tom contra Netanyahu, dizem diplomatas

Após episódio com mais de 100 mortes em Gaza, Itamaraty disse que ação militar israelense 'não tem qualquer limite ético'.

Por André Miranda

01/03/2024 às 13:01:28 - Atualizado há
Após episódio com mais de 100 mortes em Gaza, Itamaraty disse que ação militar israelense 'não tem qualquer limite ético'. Procurada, embaixada de Israel ainda não se manifestou. Diplomatas ouvidos pela GloboNews nesta sexta-feira (1) afirmaram que, diante do episódio em que mais 100 pessoas foram mortas durante entrega de ajuda humanitária em Gaza e outras 750 ficaram feridas, o Brasil não poderia ser "complacente".

Por isso, o governo brasileiro decidiu "subir o tom" ao divulgar uma nota crítica ao governo de Benjamin Netanyahu.

Nesta quinta, imagens que circularam o mundo mostraram o tumulto durante a entrega da ajuda humanitária. O chefe da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, criticou Israel pelo "massacre". O grupo terrorista Hamas, que controla a Faixa de Gaza, ameaçou deixa as negociações de cessar-fogo.

O governo de Israel, por sua vez, afirmou que tanques dispararam tiros de advertência para dispersar a multidão que tentou saquear os caminhões que levavam a ajuda.

Ao se manifestar sobre o caso, o Itamaraty disse que o governo brasileiro soube das mortes com "profunda consternação", acrescentando que a situação na região é "desesperadora"e "intolerável".

"O governo Netanyahu volta a mostrar, por ações e declarações, que a ação militar em Gaza não tem qualquer limite ético ou legal. E cabe à comunidade internacional dar um basta para, somente assim, evitar novas atrocidades", afirmou o Itamaraty.

A GloboNews procurou a embaixada de Israel em Brasília e aguardava resposta até a última atualização desta reportagem.

Conforme um diplomata a par da formulação do texto divulgado pelo Itamaraty, o presidente Lula revisou e deu aval aos termos utilizados. Para o Itamaraty, é preciso econhecer a "dura realidade" na região.

"Não dá para ser complacente diante dessa tragédia. O ocidente, tão preocupado com vidas humanas na Ucrânia, dando 'carta branca' para Israel em Gaza. Isso não é direito de defesa", afirmou esse diplomata, acrescentando que não pode haver um peso e duas medidas.

Um outro diplomata, também na condição de anonimato, afirmou à GloboNews que a nota não teve o objetivo de "jogar lenha na fogueira", mas, sim, reagir ao episódio "horrível".

"Acho que é importante subir o tom diante do absurdo", afirmou.

"Acho importante também que o texto singulariza o governo Netanyahu, se referindo diretamente e deixando claro que não é algo contra o país, mas contra as ações específicas de um governo", acrescentou.

Crise diplomática

Desde que, no mês passado, o presidente Lula comparou o que acontece em Gaza às mortes de judeus durante o regime nazista de Adolf Hitler, as relações diplomáticas entre Brasil e Israel entraram em crise.

O governo de Israel, por exemplo, declarou Lula 'persona non grata' no país, isto é, uma pessoa indesejável.

Além disso, o chanceler israelense, Israel Katz, chegou a levar o embaixador do Brasil em Tel Aviv, Frederico Meyer, ao museu do holocausto e passou a fazer críticas públicas a Lula em uma rede social.

Nesse cenário, Lula passou a reforçar em discursos e entrevistas que considera um "genocídio"o que acontece em Gaza e chamou de volta ao Brasil o embaixador em Tel Aviv.

"Eu quero dizer para vocês que eu não troco a minha dignidade pela falsidade. E quero dizer para vocês que eu sou favorável à criação do Estado palestino livre e soberano. Que possa, este Estado palestino, viver em harmonia com Israel. E quero dizer mais: o que o governo de Israel está fazendo contra o povo palestino não é guerra, é genocídio. Porque está matando mulheres e crianças", disse Lula no último dia 23 de fevereiro.
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